Arquiteto paulistano com mestrado em sustentabilidade na Espanha montou empresa na Vila Madalena voltada para construções sustentáveis.
A crise da falta de chuvas que abastecem a cidade de São Paulo mostra que é preciso mudar nossa relação de consumo com a água. O momento ensina que é preciso utilizá-la com mais racionalidade e economia. Seja em casa ou nas empresas e indústrias.
O arquiteto Rafael Laschiavo Miranda criou, este ano, o EcoEficientes, escritório de arquitetura sustentável bem ao lado do Beco do Batman, na Vila Madalena. O imóvel onde instalou a sede de sua empresa ocupa a área onde meses atrás funcionava a Praça do Tag and Juice.
Morador da Vila Madalena, Rafael optou pelo bairro para instalar sua empresa, segundo ele, “por ser um lugar onde ainda se tem um clima interiorano dentro da cidade”. Pelo visto, a Vila combina com sua proposta de arquitetura sustentável: o contêiner que serve de escritório para sua empresa “levou dois dias para ser montado”. As mesas de trabalho exemplificam sua opção: uma é de lascas de madeira reciclada e a outra, produzida a partir de tubos de pastas de dentes usados.
A identificação pela sustentabilidade não é nova para Rafael. “Antes de me formar em arquitetura na FAAP, já pesquisava e tinha interesse por sustentabilidade. Viajei pelo Brasil para conhecer modelos de ecovilas”. Ele afirma que é uma alternativa viável para muita gente. “Prova disso é o grande número de pessoas e empresas que está ‘descobrindo’ esse modelo de construção e me consulta, pedindo informações”. Ele fez mestrado em sustentabilidade na Universidade Politécnica da Catalunya.
Segundo ele, a escolha pela Espanha foi natural. É um dos países mais desenvolvido nas técnicas de sustentabilidade em matéria de arquitetura. “Lá é comum incluírem nos projetos o uso da água da chuva, aproveitamento da luz solar, ventos, de uma forma moderna e eficiente”, afirma ele. Na Espanha, em 2010, participou da equipe de arquitetos que projetou e construiu o pavilhão da Espanha na Expo Xangai, na China.
Desde que voltou ao Brasil, em 2010, Rafael se dedica a trabalhar com projetos sustentáveis. Em sua empresa, além dos projetos e consultoria para os quais é chamado, também abastece com textos, projetos e informações o site Ecoeficientes, plataforma on-line, voltada para difundir informações sobre sustentabilidade, com projetos e notícias sobre construções sustentáveis e outros temas relativos.
Na sede de sua empresa, está iniciando a instalação de um showroom da construção sustentável. Rafael pretende que ali, estudantes de arquitetura, arquitetos e construtores, além do público em geral, possam conhecer equipamentos e soluções para atender a essa procura. “Existem muitas empresas produzindo para esse segmento, mas a minha intenção é reunir esses empresários nesse espaço para que o público, especializado ou leigo, possa conhecer o que o mercado oferece”, afirma. Até recentemente a empresa era acessada através da internet para realizar projetos e fazer consultoria em construções sustentáveis. Mais recentemente, Rafael sentiu que era hora de abrir um espaço físico para difundir técnicas, produtos e serviços.
No espaço, Rafael programa dar cursos e workshops voltados à sustentabilidade urbana. “Aqui será um espaço onde as pessoas possam conhecer como funcionam sistemas como horta urbana, aproveitamento de água de chuva etc. E também é aqui que elas vão conhecer as empresas, produtos e tecnologia que essas empresas produzem. As pessoas saberão quem faz, o custo dos produtos etc.” Segundo o arquiteto, existem muitas empresas trabalhando com isso, mas estão isoladas e ele pretende facilitar e aproximar os interesses de fabricantes e consumidores.
Energia solar, telhados verdes, técnicas de bioconstrução que acontecem em ecovilas, aproveitamento de água de chuva e de reúso, hortas orgânicas, que podem ser construídas e mantidas em pequenos espaços como apartamentos, são os temas e técnicas que a empresa terá à disposição de seus clientes e interessados em geral. “Nas faculdades, a procura por esse tipo de tecnologia é grande e quero também promover o conhecimento entre o público leigo”, afirma Rafael. Além disso, o local também servirá para venda de produtos e serviços.
Para ele, cidades como São Paulo precisam ser mais orgânicas e sustentáveis. “Recebo, através da internet, muitas consultas de como fazer projetos com sustentabilidade”. Com seu conhecimento e experiência, ele espera levar mais qualidade de vida e conforto, saúde, economia, além de preservar o meio ambiente, para dentro das casas.
O conceito de sustentabilidade envolve melhor e maior aproveitamento de materiais (como adobe, bambu) em uma construção, que podem custar menos e também gerar mais conforto para seus ocupantes. Exemplo disso são os sistemas que aproveitam a água da chuva para regar jardins e hortas, os telhados verdes que ajudam a controlar a temperatura interna de uma casa ou edifício no inverno (ajuda a manter o calor) e no verão (refresca o interior) e outras sugestões. E também no dia a dia, Rafael e a esposa, Verônica, aplicam técnicas de sustentabilidade. No prédio onde moram na Vila Madalena, eles criaram um terraço verde e uma horta orgânica. Ele justifica: “Além de economizar dinheiro, tiro da minha horta folhas de verdura e legumes usados em saladas, temperos e folhas de chá”, diz o arquiteto.
“É crescente o número de pessoas que procuram técnicas ecoeficientes para aplicar em sua vida”, afirma Rafael. O sistema de horta, por exemplo, que ele desenvolveu juntamente com colegas é voltado para as cidades. “As pessoas que vivem nas cidades precisam ter uma ligação maior com a natureza e aprender a mexer com a terra e cultivar seus próprios alimentos”. O sistema é de fácil instalação e de baixa manutenção. “O reservatório de água é completado a cada quinze dias. Cada planta tira a água de que precisa para sua existência”.
A casa da mãe dele, Maria Cristina, é outro exemplo de projeto sustentável desenvolvido por Rafael: tem uma horta ecológica e um jardim vertical que se transformaram em terapia para ela. Rafael aproveitou a iluminação natural e paredes com plantas que, além de embelezar, também garantem mais qualidade de vida aos moradores. O teto verde contribui e reduz a temperatura da casa no verão. A água coletada da chuva é coletada em uma cisterna e serve para regar os jardins. Além de economia, ele explica que é uma maneira de aproveitar o meio ambiente para ter uma vida mais saudável aproveitando o que a natureza oferece.
Reportagem: Gerson Azevedo