Tibá, “local de muitos encontros” em tupi-guarani, assim como a sigla do Centro de Tecnologia Intuitiva e Bio Arquitetura. O Tibá Rio (Bom Jardim-RJ) promove diversos cursos-encontros voltados à permacultura e construção sustentável. Rodeada pelo verde das montanhas do interior do Rio De Janeiro, tive a oportunidade de participar do curso de Bio Arquitetura dado pelo autor do best-seller “Manual do Arquiteto descalço“, Johan van Lengen. Figura dócil e sábia, conquista o coração de todos com sua fala calma e cheia de histórias para contar. Entre ter nascido na Holanda, passado por guerras, morado e trabalhado em diversos países e ter fundado o Tibá há 27 anos, histórias realmente não lhe faltam. Diego Tort e Cobi Shalev, mestres da bioconstrução ministraram o curso junto a Johan.
O encontro se deu em quatro dias numa atmosfera bastante agradável. Vieram pessoas de diversos estados, onde nem todos trabalhavam diretamente com arquitetura, no entanto, todos pareciam possuir algo em comum: a vontade de construir um mundo melhor. O grupo não demorou muito a se entrosar.
O material foi bastante abrangente e tivemos a oportunidade de colocar literalmente a mão na massa em diversos momentos. Começamos com as técnicas de terra, onde construímos um banco de hiper-adobe. Passamos pela taipa de pilão, adobe, bambu-a-pique, revestimento de terra grosso e fino, todos eles na teoria e na prática. Vimos ainda a técnica de plasto-cimento: concreto estruturado com sacos plásticos em forma de rede (sacos comuns para transporte de frutas e verduras) com o qual construímos as peças modulares de um bason, uma espécie de módulo de banheiro seco desenhado por Johan. O nome bason vem do espanhol “basura” (lixo) + “abono” (adubo).
Tivemos uma bela palestra sobre as viabilidades construtivas do bambu desde o olhar sensível do casal “bambuzeiro” Fabiana Carvalho e Leonardo Soares que há pouco tempo moram no Tibá e irão cuidar de todos os assuntos referentes a esse maravilhoso recurso renovável. O casal fará o manejo dos bambuzais, construirão uma estrutura para tratamento das varas assim como pretendem desenvolver algumas construções de bambu no sítio.
Participamos também da execução de um filtro biológico, estrutura que filtra as águas cinzas da casa, devolvendo a água já tratada ao meio ambiente.
Um dos pontos altos do encontro é quando Johan nos fala sobre o método Alfa-Beta onde ele ensina caminhos para projetar com o lado direito do cérebro, sendo assim muito mais criativos e intuitivos ao desenhar. O exercício dado foi pensar na implantação de uma Ecovila. Esta noite fechamos com um teatro criado pelos participantes, resultado do trabalho de toda a tarde debruçados na técnica (meditações e respirações) do Alfa-Beta.
Um momento muito rico foi a noite chamada “Open Space” onde abre-se espaço para os participantes do curso compartilharem os seus saberes voluntariamente.
Na última noite, fizemos uma fogueira e nela cantamos, dançamos ciranda ao redor do fogo e partilhamos as sensações despertadas no ânima de cada um no encontro.
Tudo isso regado a uma comida vegetariana deliciosa, breaks com café, cházinhos, pães, queijo branco e doce de goiaba, todos preparados no local. Sem falar nos banhos de bica de água mineral natural e nas práticas vitalizantes de auto-massagem “do-in” dadas pelo próprio Johan todos os dias às 6hs da manhã.
Foram dias onde tivemos a oportunidade de experienciar a volta à antiguidade, onde arquitetos pisavam a terra para preparar tijolos. E me fica bastante claro o conceito de que a simplicidade transmitida por Johan, tanto em seu olhar quanto nas técnicas ensinadas em seus livros, é a base para um futuro mais sustentável.
Reportagem: Vivian Amarante
Edição: Daniel Chaves
Redação Ecoeficientes